quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cassel destaca a importância e a diversidade da agricultura familiar

“Só chegamos aqui porque temos crédito do Pronaf, assistência técnica, seguro, comercialização, Territórios da Cidadania, Mais Alimentos”. Foi o que destacou o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Guilherme Cassel, na tarde desta quarta-feira (7), na abertura do Brasil Rural Contemporâneo – VI Feira da Agricultura Familiar e da Reforma Agrária, que vai até segunda-feira (12), no Rio de Janeiro.

Para Cassel, a agricultura familiar vem crescendo e se desenvolvendo na medida em que as políticas públicas também crescem e se desenvolvem. “A feira cresce junto com a agricultura familiar”, disse.

O ministro informou que este ano são mais de 650 expositores, que trouxeram mais 10 mil produtos de todas as regiões do País, e que demonstram a diversidade da agricultura familiar e a intensificação do trabalho do governo para esta agricultura.

Com o governador do Rio, Sérgio Cabral, o ministro assinou acordo de cooperação para repasse de R$ 6 milhões para o estado para a prestação de assistência técnica e extensão rural a agricultores familiares. (MDA - foto Ubirajara Machado)

Ministro diz que pesca na Amazônia pode reduzir desmatamento

O ministro da Aquicultura e Pesca, Altemir Gregolin, informou durante o 3º Simpósio Amazônia, realizado nesta quarta-feira (7), que está discutindo no âmbito do ministério uma forma de incentivar a piscicultura na Amazônia, no lugar da criação de gado, para reduzir o desmatamento. Ele afirma que a criação de peixes é mais rentável do que a de gado, e que há ainda um mercado inexplorado: em 2008, 16% do pescado consumido no Brasil foram importados.

Gregolin destacou que no Brasil existem 750 mil pescadores artesanais e que grande parte está na Amazônia. "A atividade não necessita de grandes extensões de terra e é forte em geração de emprego e renda", afirmou.

Gado x desmatamento
O ministro observou que a criação de gado na Amazônia é associada a 75% do desflorestamento. O professor da universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Eduardo Frickmann Young salientou que um boi na Amazônia significa menos 1,5 hectare de floresta. "Evitar um boi a mais na região equivale a reduzir a emissão anual de mais de 200 carros", disse.

Na opinião do professor da Universidade de Brasília (Unb) Donald Sawyer, as atividades econômicas florestais e não florestais na Amazônia deveriam ser subsidiadas pelo governo. Além disso, para ele, as atividades com maior sustentabilidade deveriam ser intensificadas.

Já o representante da Embrapa/Pará, Alfredo Homma, observou que o Brasil precisa reflorestar mais. Enquanto o País tem 5,5 milhões de hectares reflorestados, o Japão tem 11 milhões. Ele sugeriu a redução dos 51 milhões de hectares de pastagem na região.

O diretor-geral da Fundação Amazonas Sustentável, Virgílio Viana, afirmou que 20% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) são do segmento florestal. Em sua opinião, o desafio é reduzir o desmatamento e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida da população que vive na região. Viana defendeu a remuneração dos créditos de carbono pelo estoque de floresta e pelo não-desmatamento. (Agência Câmara)

Cúpula Amazônica debate proteção das florestas

Com o objetivo de enviar a Carta de Manaus à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Copenhagen, começou hoje em Manaus a Cúpula Amazônica de Governos Locais. Representantes de municípios da Amazônia brasileira e peruana vão debater sobre a participação da sociedade civil na proteção das florestas.

O primeiro painel amanhã vai discutir o tema "Mudanças Climáticas, a Amazônia e suas Cidades". Os palestrantes serão os cientistas Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e Henrique Pereira, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e superintendente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais e Renováveis (Ibama).

Paralelamente, diversos cientistas de instituições da Amazônia e de outras regiões debaterão sobre as alternativas para o desenvolvimento sustentável e a inclusão social dos povos da floresta. (Estadão Online)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Indígenas reivindicam direitos na Amazônia

A Coordenadora de Organizações Indígenas da Cuenca Amazônica (COICA) exigiu nesta quarta-feira que seus direitos sobre terras ancestrais sejam reconhecidos, durante a reunião sobre mudança climática realizada na sede das Nações Unidas em Bangcoc.

"As reuniões nem sequer mencionaram o direito lícito dos povos indígenas às terras ancestrais, o que, além disso, é essencial para a proteção das selvas da Amazônia, imprescindíveis para evitar a mudança climática", disse à Agência Efe o coordenador da COICA, Juan Carlos Jintiach.

As conversas em Bangcoc, onde se debate um novo acordo para substituir o Protocolo de Kioto em 2012, incluem a luta contra o desmatamento como uma das linhas principais para reduzir as emissões de gases agravantes do efeito estufa.

O projeto, com o objetivo de reduzir as emissões do desmatamento e a degradação, afeta diretamente cerca de 370 milhões de indígenas no mundo todo.

"Só pedimos que respeitem a Declaração da ONU sobre os direitos dos povos indígenas aprovada em 2007, que reconhece o direito jurídico sobre as terras e recursos que tradicionalmente possuímos", afirmou Jintiach, original do povo shuar, na floresta amazônica equatoriana.

O coordenador da COICA denunciou que os diferentes Governos da bacia do Amazonas não informaram nem consultaram os povos nativos sobre a implementação do plano de redução das emissões, um direito também garantido na declaração da ONU.

"As organizações indígenas se mobilizaram para extrair os detalhes do plano e promover uma campanha de informação entre as comunidades", afirmou Jintiach.

O coordenador se mostrou propício a que a ONU chegue a um acordo para proteger as florestas, "mas cada comunidade decidirá de forma autônoma se apoia o projeto ou não", disse.

Em sua opinião, os povos indígenas que dependem do ecossistema são os que mais sofrem com as secas e as tempestades causadas pelo aquecimento global, assim como com a intrusão em seus territórios de multinacionais madeireiras, mineiras ou petrolíferas.

"A bacia do Amazonas está repleta de violações das comunidades indígenas, como os vestígios tóxicos no Suriname ou a exploração mineira na Guiana", acrescentou.

Se a poda da floresta, o dano causado pela mineração e a exploração petrolífera avançarem ao ritmo atual, os cientistas estimam que em até 40 anos a floresta amazônica poderia se transformar em uma savana e terminar em um deserto.

A COICA representa mais de 100 organizações de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, a Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela que atuam na região da bacia amazônica, onde vivem mais de 400 povos indígenas, com uma população de 3 milhões de pessoas. (EFE)

Estudo mostra que aquecimento global pode aumentar temperatura da Amazônia em 10 graus

Um novo estudo do Departamento de Meteorologia Britânico prevê o aumento da temperatura do planeta em até quatro graus. Esta elevação pode atingir principalmente regiões como a Amazônia, onde a temperatura poderá aumentar em até dez graus.

A previsão é de que o cenário se torne realidade no ano de 2060, quarenta anos antes do anunciado pelo Painel Governamental para Mudanças Climáticas.

Para o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), José Antônio Marengo, o ser humano tem condições de se adaptar às mudanças, mas a biodiversidade, não.

"A biodiversidade não tem essa capacidade de se adaptar tão radicalmente como o ser humano. Basicamente a floresta poderia sumir e ser substituída por outra vegetação. Mudando a vegetação, muda o clima. E o clima da Amazônia regula o clima de outra regiões da América do Sul e do mundo, o que faria um efeito dominó."

Segundo o pesquisador, não se pode reverter o cenário previsto, mas é possível adiar o aumento da temperatura.

"A ideia é reduzir as emissões o máximo possível. No caso do Brasil, a maior emissão do efeito estufa é pelo desmatamento. Então a ideia é reduzir o desmatamento."

A mudança climática do planeta é um fenômeno natural, mas que está sendo acelerado pelo ser humano. A queima de combustível fóssil, resultante dos carros e das indústrias, e a queima de biomassa, consequência do desmatamento, é o que mais tem causado o aquecimento global.

O pesquisador ressalta ainda que o aumento da temperatura da Amazônia poderá comprometer a produção de soja em 40% e a perda de energia elétrica em até 8%. (Agência Brasil)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Incra diz que ação de sem-terra em fazenda paulista prejudica política de reforma agrária

A invasão da fazenda Santo Henrique, pertencente à empresa Cutrale e situada no município de Borebi, a 300 quilômetros da cidade de São Paulo, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi equivocada e prejudica o desenvolvimento da política de reforma agrária para o país. A avaliação foi feita pelo presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, em entrevista exclusiva à Agência Brasil.

Ele condenou especialmente a destruição de lavouras de laranja e a disposição declarada pelo MST de permanecer na área mesmo depois de receber uma liminar da Justiça para a desocupação.

“O Incra condena estes atos praticados pelo MST na fazenda Santo Henrique. Este tipo de ação não contribui para a resolução dos conflitos fundiários e para o avanço da reforma agrária no país. Ao contrário, joga todas as forças da sociedade contra a reforma agrária e o MST”, criticou Hackbart.

“Faltou bom senso. Espero que ele [MST] cumpra a decisão judicial. É muito ruim para o próprio movimento. Este tipo de prática a sociedade não aceita. Nós temos lei, temos regras e as instituições estão funcionando”, acrescentou.

Segundo Hackbart, o Incra já promoveu no governo Lula a criação de 66 novos assentamentos no estado de São Paulo. A fazenda Santo Henrique está incluída no Núcleo Colonial Monção, uma área de 40 mil hectares espalhados entre os municípios de Agudos, Águas de Santa Bárbara, Borebi, Iaras e Lençóis Paulista. Há uma discussão na Justiça visando à desapropriação da fazenda para fins de reforma agrária.

“Essa é uma área antiga de colonização cujo domínio está sendo questionado na Justiça, se é terra pública ou não. Mas, enquanto o juiz não decidir se a área é privada ou pública, não se justifica de nenhuma forma esse tipo de ação”, disse Hackbart.

O presidente do Incra admitiu que um dos grandes desafios atuais do Estado brasileiro é, além de continuar buscando a desconcentração da propriedade de terras, melhorar a qualidade de vida nos assentamentos. “São mais de 8.300 assentamentos e também precisa de mais participação dos governos estaduais e das prefeituras para que as políticas públicas de escola, de estrada, saúde e energia cheguem aos assentamentos.”

Hackbart ressaltou que o Incra dialoga diariamente com proprietários, movimentos sociais e o Poder Judiciário para agilizar os processos de obtenção de terra, criar assentamentos e liberar crédito para a infraestrutura nestes locais. “Desde 2003 já assentamos mais de 520 mil famílias que vivem em 80 milhões de hectares. Pagamos mais de R$ 4 bilhões de crédito para os assentados”, afirmou. (Agência Brasil)

Participação do Incra na VI Fenafra traz exposição sobre cadeia do babaçu

Os visitantes da sexta edição da Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Fenafra) poderão conhecer de perto todo o processo de produção que envolve o babaçu, palmeira brasileira encontrada em abundância na faixa de transição para a Floresta Amazônica. Na Casa do Incra, espaço destinado a autarquia fundiária dentro da Feira, será apresentada a Exposição Cadeia do Babaçu durante o evento, que acontece na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, entre os dias 7 e 12 de outubro.

Na Casa do Incra será exposta uma diversidade de produtos e subprodutos oriundos babaçu. Lá, os visitantes constatarão que da palmeira tudo se aproveita. Da folha, faz-se telhado para casas, cestas e outros objetos artesanais; do caule, adubo e estrutura de construções; da casca do coco produz-se carvão para fazer o fogo, e, da parte carnosa do coco, o mingau usado na nutrição infantil; da amêndoa obtêm-se óleo, empregado sobretudo na alimentação, mas também como combustível e lubrificante, e na fabricação de sabão.

A Casa é um modelo desenvolvido pelo Incra/RN e pretende reproduzir toda a cadeia produtiva da palmeira desenvolvida pelos beneficiários da reforma agrária de 11 estados brasileiros (MA, PI, TO, PA, CE, BA, MG, GO, MT, RO, AM), além de mostrar o dia a dia do trabalho das Quebradeiras de Coco e da ambientação característica das áreas de babaçuais. Também haverá uma exposição fotográfica sobre as Quebradeiras de Coco do Maranhão.

A cadeia do coco de babaçu é prioridade entre os produtos do Plano Nacional das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade, promovido pelos ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA), do Meio Ambiente (MMA) e do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS). O Plano integra ações de fortalecimento das cadeias produtivas e consolidação de mercados sustentáveis para os produtos oriundos da sociobiodiversidade brasileira.

Na região, onde se concentram 38 comunidades quilombolas e mais de 50 mil famílias instaladas em 1.320 assentamentos da reforma agrária espalhadas por 279 municípios brasileiros, a cadeia do babaçu é muito importante, pois pode ser considerada uma fonte potencial de renda para essas famílias. O apoio dado pelo Plano agrega valor socioambiental ao trabalho das mais de um milhão de pessoas envolvidas direta ou indiretamente na cadeia, gerando renda e segurança alimentar.

Nos 25 mil metros quadrados de área onde a Fenafra foi montada, há também espaços reservados a outros órgãos e programas ligados a reforma agrária. São eles o Espaço MDA, Espaço Territórios da Cidadania/Territórios Digitais, Espaço NEAD, Espaço Mais Alimentos, Espaço Brincante e Espaço Excelência em ATER.

A Feira

A VI Fenafra é uma mostra de toda a riqueza, diversidade e beleza produzida pelos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. É o maior espaço de exposição e venda de produtos da agricultura familiar na América Latina.

Nesta edição, 601 expositores terão oportunidade de mostrar ao público mais de dez mil produtos em cinco ambientes regionais, ocupados por 27 estandes coletivos estaduais de expositores das regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste, Sudeste e Sul.

A área conta com seis espaços temáticos - Amazônia, Praça da Cachaça, Praça dos Orgânicos, Praça do Artesanato/Ofícios, Talentos do Brasil e Organização Produtiva das Mulheres Rurais - e sete espaços de redes de cooperativas e associações. Nestes locais, que reúnem até 16 expositores, o visitante pode ver, degustar e comprar diretamente produtos de qualidade.

Mais informações sobre a VI Fenafra estão disponíveis em www.mda.gov.br/feira.

Serviço

VI Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Fenafra)
Data: de 7 a 12 de outubro - abertura às 15h do dia 7
Local: Marina da Glória, Av. Infante Dom Henrique,s/n, Rio de Janeiro (RJ)
Horários: das 13h às 22h, de quarta à sexta-feira das 10h às 22h, de sábado à segunda-feria
Ingressos para a Feira: R$ 5 (interia) e R$ 2 (meia)
Ingressos para a Feira e shows: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia. (Incra)

MDA lança cartilha sobre Lei da Alimentação Escolar

Na próxima quinta-feira (8), será lançada a cartilha da Alimentação Escolar na VI Feira da Agricultura Familiar e da Reforma Agrária – Brasil Rural Contemporâneo, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro (RJ). A publicação é voltada, principalmente, para os agricultores familiares e extensionistas e traz o passo a passo de como comercializar os produtos da agricultura familiar para a alimentação nas escolas brasileiras, a partir da lei 11.947, sancionada este ano.

Com a lei, fica determinada a utilização de, no mínimo 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), para a compra de produtos da agricultura familiar e que serão utilizados na alimentação dos alunos nas escolas públicas.

Esses 30% do orçamento do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para 2009 correspondem a cerca de R$ 600 milhões.

Entre os passos para comercialização de produtos para a alimentação escolar estão: conhecer a produção local da agricultura familiar, mobilizar as organizações dos agricultores e apresentar estas organizações aos gestores públicos e ao Conselho de Alimentação Escolar (CAE) do município.

Cadastramento de agricultores

Durante os seis dias de feira, os agricultores familiares e organizações da agricultura familiar poderão fazer um cadastro junto a Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA). Em um estande haverá técnicos da Secretaria que irão realizar o serviço, durante todo o dia.

Este cadastro servirá para um mapeamento dessas organizações e um instrumento para que gestores do PNAE nos estados, Distrito Federal e municípios possam conhecer a demanda de produção que poderá atender a compra local de produtos para a alimentação escolar. O cadastramento também pode ser feito pelo site: http://comunidades.mda.gov.br/portal/saf/programas//alimentacaoescolar.(MDA)

Projeto libera mineração em reserva indígena

O governo concluiu o projeto de lei para garantir a realização de negócios em terras indígenas, que vão movimentar dois importantes setores da economia: mineração e energia elétrica. Pelo projeto, as empresas poderão realizar empreendimentos nas reservas, que equivalem a 13% do território nacional, mas terão de dar uma série de contrapartidas aos índios, como royalties, compensações ambientais e contratação de mão de obra.

Os índios terão participação direta nos investimentos. No caso da mineração, as aldeias poderão até vetar os empreendimentos, caso entendam que serão afetadas negativamente em sua cultura ou no ambiente. As mineradoras terão de dar prioridade aos índios na contratação de pessoal e eles terão a garantia de receber salários nos mesmos níveis dos demais trabalhadores. Além disso, os lucros com a exploração de minério terão de ser repartidos com as aldeias afetadas pela atividade econômica.

No caso do aproveitamento dos rios para energia elétrica, os índios também terão essas garantias de royalties e de preferência na contratação de mão de obra, mas não vão poder vetar os projetos. Para a construção de hidrelétricas, por exemplo, os índios vão participar de todos os debates que antecedem às obras. O projeto prevê que o nível dos rios deve ser mantido de forma a garantir o consumo, os costumes e as tradições indígenas. Os índios terão o direito a, no mínimo, 10% dos ganhos de cada empresa que explorar os recursos hídricos em reservas, além de reparações por eventuais danos ambientais. Porém, os índios não poderão impedir a concretização final dos empreendimentos hidrelétricos.

O texto enviado ao Congresso, com 235 artigos, prevê ainda que todos os projetos de investimentos em reservas terão de ser discutidos antes com as comunidades indígenas e as empresas somente poderão atuar através de licitação pública, a ser aberta posteriormente. Com isso, primeiro, as aldeias vão participar da definição das linhas gerais para cada empreendimento, para, depois, ser confeccionado o edital para as empresas entrarem na disputa.

Essas exigências foram consideradas fundamentais pelo Ministério da Justiça, pois elas garantem que todo o projeto de investimento em área indígena será antecedido de licitação. Isso reduz a possibilidade de uma empresa fazer pressão direta para obter o aval de uma comunidade indígena específica. Mesmo se o fizer, essa empresa sabe que a outorga da exploração está submetida à licitação e nada garante que ela será a vencedora ao final da concorrência. Todos os empreendimentos em áreas indígenas deverão ser antecedidos de regularização fundiária e ambiental.

A concepção do projeto de lei é a de que os índios são diferentes e têm a sua cultura específica, que deve ser preservada, mas que isso não significa que eles não possam se organizar nos moldes empresariais e produzir. "O fato de se produzir nas reservas não significa o fim da cultura dos índios", disse secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay. "Pelo contrário. A cultura será preservada e eles poderão se beneficiar de atividades econômicas."

Para Abramovay, o fato de ser índio e ter a sua cultura, suas tradições e danças específicas não significa que não possa ter luz elétrica, televisão ou mesmo caminhões para transportar os produtos da aldeia à cidade mais próxima. O secretário revelou que, em audiências sobre o projeto com a presença da Funai, as comunidades indígenas defenderam a mineração e outras atividades econômicas que vão além da pesca, do extrativismo e da agricultura.

Para auxiliar as comunidades indígenas na produção, o governo vai abrir uma linha de crédito específica para empreendimentos em terras indígenas, com o aporte de dinheiro através de bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal ou o Banco do Brasil. O projeto ainda prevê a criação de um fundo de captação de recursos nacionais e internacionais para o que se chamou de "promoção de economia sustentável indígena".

A ideia é que os índios possam se organizar e, através desse fundo, conseguir maiores verbas para as atividades desenvolvidas nas reservas. Na prática, é a oficialização de organizações indígenas com fins econômicos. Pelo texto, elas passam a ser reconhecidas como pessoa jurídica de direito privado. Tornam-se capazes, portanto, para receber aportes financeiros. É como se cada aldeia ou comunidade indígena pudesse criar uma S.A (sociedade anônima) diferenciada: com uma cultura própria, costumes tradicionais pré-colombianos, e também com verbas para a realização de atividades econômicas complexas, como a mineração.

No plano legal, o objetivo do projeto é substituir o atual Estatuto do Índio, que é de 1973. Segundo Abramovay, a lógica, naquela época, era que o Estado deveria tutelar os índios para eles se integrarem ao país. "Hoje, temos que romper com essa lógica de tutela e reconhecer que, ao mesmo tempo em que são diferentes, os índios podem produzir e lucrar com essas atividades", disse o secretário.

O estatuto de 1973 foi a base legal para a demarcação das terras indígenas. Hoje, 95% delas já foram devidamente demarcadas e o governo federal partiu para um novo momento: definir o que fazer com elas. A resposta da nova lei foi a de garantir a realização de atividades econômicas nessas áreas. O projeto de lei está na Câmara dos Deputados, com aval do presidente Michel Temer (PMDB-SP) para que seja aprovado. (Valor Econômico)

Sipam alerta para desmatamentos em 24 áreas protegidas de Rondônia

Resex Jaci-Paraná registrou os maiores danos à vegetação

O Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) emitiu semana passada 51 notas de alerta às autoridades rondonienses registrando a ocorrência de desmatamentos em 24 unidades de conservação, 8 estaduais, 6 federais e 10 terras indígenas do estado. Cada documento corresponde a uma nova área desmatada, locais onde ainda havia cobertura vegetal nas imagens de satélite do último relatório do Programa de Monitoramento de Áreas Especiais (ProAE) divulgado pelo Sipam. Portanto, são aberturas na mata efetuadas entre o segundo semestre de 2008 e meados de agosto de 2009, colocando em risco áreas onde se deveria zelar pela proteção ambiental.

A Reserva Extrativista Estadual Rio Jaci-Paraná, em Porto Velho, foi a unidade com maior número de alertas emitidos. Foram seis notas registrando desde pequenos desmatamentos, de três hectares, a maiores, de mais de 100 hectares. Nas imagens é perceptível o avanço da abertura de linhas dentro da reserva, que é a unidade de conservação estadual líder em desmatamento, com 40 mil hectares já alterados (22% de sua área total). Outras unidades estaduais enfocadas foram a Esec Serra dos Três Irmãos, FERS Mutum, FERS Rio Madeira B, FERS Tucano, Resex Ipê, Resex Rio Preto-Jacundá e Resex Rio Pacaás Novos. Nas reservas federais foram registradas pequenas aberturas na Flona Jacundá, PARNA Campos Amazônicos, PARNA Serra da Cutia, Resex Lago do Cuniã, Resex Rio Cautário e Resex Rio Ouro Preto.

Dez Terras Indígenas também receberam alertas. Para a TI Roosevelt, em Espigão D’Oeste, foram quatro notificações para desmatamentos que chegaram a 75 hectares e se somam aos mais de 7 mil hectares já desmatados anteriormente. Já a TI Igarapé Lage, que não registrara nenhum foco em 2008, apresentou agora pequenos desmatamentos agrupados em quatro notas de alerta. As terras indígenas Sete de Setembro, Igarapé Lourdes, Igarapé Ribeirão, Karipuna, Rio Branco, Tubarão Latunde, Uru Eu Wau Wau e Guaporé também foram alvo de alertas.

Ação que minimiza danos

O número de áreas especiais atingidas (24) é significativo, considerando que Rondônia tem um total de 75 áreas protegidas, entre terras indígenas e unidades de conservação. Entretanto, Janete Rodrigues, chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do Sipam, destaca que a maioria dos alertas se refere a pequenos desmatamentos. “Fomos bem minuciosos, destacando tudo o que era visualizado, até pequenas áreas menores que um hectare”, explica. Para o gerente regional, José Neumar da Silveira, é justamente essa a vantagem do trabalho. “Flagramos o princípio da abertura da mata, quando os órgãos responsáveis ainda podem coibir o ilícito”, conclui. Os alertas foram enviados à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundação Nacional do Índio (Funai), Ministérios Públicos Federal e Estadual, Polícia Federal e Batalhão da Polícia Ambiental. (Sipam)