segunda-feira, 27 de julho de 2009

Rede de madereiros devasta reserva indígena em Rondônia

Veja como eles se organizam para não serem encontrados.
Mais de 90 km² de mata já foram destruídos dentro de área protegida.


Cerca de 30 pessoas foram presas, entre garimpeiros e grileiros de terra. Eles não usam grandes máquinas, e agem discretamente dentro da floresta: uma motosserra, um caminhão que, de tão depenado, ganhou o apelido de jerico. São poucas pessoas trabalhando.

“Isso se chama equipe formiguinha. É pequeno e não precisa de trator para levar uma tora”, diz o funcionário da Funai.

No meio da mata, fiscais encontram uma serraria improvisada. Toras cortadas em forma de pranchas. Em outro caminhão, a madeira já pronta, em vigas. Segue para as madeireiras, defendido por uma rede de proteção contra os fiscais.

“O posto da cidade tem o contato com fazendeiro, com o proprietário da terra. Ele é beneficiado com o fazendeiro que compra o combustível. É uma rede de informação”, explica um fiscal.

Terra indígena

Depois de desmatarem boa parte do estado, agora os madeireiros querem a maior área preservada de Rondônia: a terra indígena de Uru-eu-wau-wau, que tem mais de um 1,8 milhão de hectares – o equivalente a 10% do estado.

Nos últimos anos, cerca de nove mil hectares foram desmatados. Corresponde a menos de 1% do total da área, mas é de grande importância pela biodiversidade e por concentrar os principais rios que abastecem a região.

A equipe do Bom dia Brasil acompanhou a ONG WWF-Brasil em um sobrevoo. De cima, é possível ver as clareiras abertas na mata. Durante 15 dias uma operação uniu funcionários da Funai, policiais ambientais e índios de várias etnias.

Os repórteres acompanharam tudo com exclusividade. Andaram o dia inteiro, por estradas de terra, dentro de trilhas recentemente abertas, sob o calor forte da Amazônia.

O território da maior reserva indígena de Rondônia começa a partir de uma ponte. O primeiro trecho está na Justiça desde a década de 1980. É onde vivem cerca de 60 famílias. Elas têm o título de propriedade cedido pelo Incra, mas o documento é contestado pela Funai.

Enquanto a questão não é resolvida, nenhuma árvore pode ser derrubada. Mas não é o que a gente vê. Na estrada, restos de uma árvore cortada. No final da trilha, os agentes encontraram outra árvore derrubada. Os madeireiros abandonaram o tronco, que estava sendo dividido.

Flagrante

Poucos metros à frente, a serraria clandestina. Nela, toras de madeira abandonadas. Logo depois da chegada dos policiais, um rapaz tenta passar pela área: “Eu só vim dar um recado para esse meu cunhado que mora na fazenda, eu vim só dar esse recado”.

Mas logo os policiais desconfiam da história dele: “Eu não estava serrando, não estou mexendo com madeira. Estou sozinho”.

“Você não estava mexendo com madeira, olha os vestígios de madeira. Isso aqui é pó de madeira, meu amigo”, diz um agente. Logo depois, o rapaz confessa que era ele quem serrava a castanheira.

“É uma série de fatores, temos um quadro mínimo de pessoal. É uma briga de gato e rato, porque como vocês puderam ver, o madeireiro, a cada dia que passa, se aprimora. Ele trabalha, na maioria das vezes, à noite, trabalha no interior do mato, transformando a madeira, e isso dificulta as nossas ações”, comenta um agente.

Para os ambientalistas, o crime esconde uma rede de destruição, que tem no topo, alguém que se protege pagando pouco e contratando várias pessoas.

“O que se espera da investigação é que se chegue ao mandante. Quem contrata não é a mesma pessoa que vai estar lá serrando a madeira. A pessoa que contrata é muito mais esperta e sempre vai se proteger contratando outros para executar o ilícito. Ele se protege através dessa cadeia de prestadores de serviço para esse tipo de delito”, aponta o coordenador de programa do WWF Brasil Mauro Armelin. (Globo Amazônia - com informações do Bom Dia Brasil)

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