segunda-feira, 29 de março de 2010

Governo pretende organizar a "mais verde" das Copas do Mundo

"O Brasil terá a mais verde de todas as Copas". A frase do ministro do Esporte, Orlando Silva, indica a trilha que o governo pretende dar aos investimentos de infraestrutura para a Copa do Mundo de Futebol que o Brasil vai sediar em 2014. É verdade que a quatro anos do começo da festa a frase de Silva soa como intenção e marketing. Na semana passada, o ministro cobrou pressa das 12 cidades que devem reformar ou construir estádios e disse que está lento o acesso aos R$ 400 milhões que o BNDES está disponibilizando para cada uma das cidades que quiserem construir ou reformar sua arena. Mas ao Valor ele explicitou como o governo quer fazer da edição brasileira uma Copa sustentável.

A arquitetura verde esportiva leva em conta quatro tópicos básicos: estádios com certificação ambiental, prioridade ao transporte coletivo, uso de biocombustíveis e oferta de produtos orgânicos e promoção do ecoturismo.

Na construção ou reforma de seus estádios, as 12 cidades que devem ter jogos (Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), têm de apresentar uma certificação ambiental como requisito para que o projeto seja aprovado e os empréstimos do BNDES. A exigência está em sintonia com as sugestões da Fifa que "enfaticamente recomenda" selo verde nas arenas. Os estádios podem ter sistemas de aproveitamento de água da chuva, energia solar a partir de placas fotovoltaicas ou usar lâmpadas econômicas.

As instalações sustentáveis podem representar aumento de até 5% no custo da obra. "Mas o investimento acaba sendo revertido em prazo curto porque o gasto com a manutenção torna-se menor", justifica Silva. Das 12 cidades com jogos, três já têm arenas privadas e é provável que a maioria tenha gestão profissional depois do evento. A tendência é buscar projetos que desenhem estádios multiuso, como os da Copa da Alemanha. Pelo calendário, as obras devem começar neste semestre e os estádios têm de estar prontos em 31 de dezembro de 2012.

Incentivar uma rede de arenas de última geração é só a cereja do bolo dos investimentos de uma Copa. "O pessoal imagina o estádio e ponto. Mas as arenas são só 10% de um evento como este. Os outros 90% estão no acesso aos estádios, aeroportos, hotéis, na infraestrutura da cidade como um todo", diz Adilson Primo, presidente da Siemens do Brasil, empresa que vem fortalecendo seu portfólio de produtos sustentáveis. "É verdade", reconhece o ministro. "A Copa é uma oportunidade de promoção do Brasil no mundo, de mostrar que este é um país seguro para investimentos. Uma enorme chance de melhorarmos a infraestrutura."

Primo estima investimentos em cerca de US$ 40 bilhões, contando com a sobreposição que acontecerá no Rio, sede da Olimpíada de 2016. "A Copa tem de ser vista como 30 dias que podem valer por 30 anos", diz o executivo.

O valor atual estimado pelo governo de investimentos em aeroportos, estádios, mobilidade urbana, portos e rede hoteleira já bate em R$ 25 bilhões. "Vai crescer muito este número" prevê Silva. Parte dos recursos virá do setor privado, mas o fluxo é majoritariamente público, com financiamento do BNDES e da Caixa Econômica Federal. A estimativa não engloba ainda investimentos em segurança e em telecomunicações.

Silva diz que ao analisar os projetos de mobilidade urbana, o foco foi priorizar opções de transporte coletivo. "Entre alterar o sistema viário para beneficiar automóveis ou projetos de transporte público, optamos pelo coletivo", diz. Os projetos de mobilidade urbana estimam investimentos de R$ 12 bilhões. Para São Paulo, a intenção é ter um monotrilho que ligue o aeroporto de Congonhas, o metrô, os ramais ferroviários e o estádio do Morumbi. Manaus também deve ter seu monotrilho. A opção para Brasília e Fortaleza deve ser um VLT, veículo leve sobre trilhos. Em Pernambuco a ideia é uma requalificação do transporte ferroviário. "São todas opções ambientalmente relevantes", aponta o ministro.

Nos próximos dias, os ministérios do Esporte e do Meio Ambiente vão anunciar uma estratégia de revitalizar os parques nacionais próximos às cidades da Copa. A ideia é promover o ecoturismo e o marketing de "Copa Verde". Perto de 600 mil turistas do exterior são esperados. Outro ponto será transportar as seleções com carros a etanol e servir produtos orgânicos.

Primo, da Siemens, recomenda que as cidades definam logo um plano diretor para a Copa. O planejamento, diz, foi um dos segredos do êxito da edição alemã, em 2006. Na semana passada, uma comitiva de empresários britânicos envolvidos com a Olimpíada de Londres esteve no Brasil fazendo contatos com os brasileiros. Tessa Jowell, chefe da organização dos jogos londrinos, deu dicas para o sucesso desses megaeventos: "Definir logo quanto se pode gastar dando margem aos custos imprevistos" e depois disso, "respeitar rigorosamente a planilha." (Valor Econômico)

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