sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Acabar com devastação custaria até US$ 18 bi

Cálculo de cientistas propõe zerar desmatamento da floresta até 2020

Acabar com o desmatamento na Amazônia até 2020 custaria de US$ 6,5 bilhões a US$ 18 bilhões em investimentos, além do que já é gasto hoje pelo governo na região, segundo um estudo publicado hoje na revista Science. O cálculo foi feito por pesquisadores brasileiros e americanos, que defendem uma meta ainda mais ambiciosa do que os 80% de redução que o Brasil pretende levar para a Conferência do Clima de Copenhague. Querem desmatamento zero.

"É algo perfeitamente factível", disse ao Estado o ecólogo Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), um dos autores do estudo. "Achamos que dá para ir além dos 80% e chegar a Copenhague com um número muito mais robusto."

Quem pagaria a conta não seria o povo brasileiro, mas os países desenvolvidos, por meio da compra de créditos de carbono florestal e outros mecanismos de financiamento internacional. "O mais provável e justo é que esse dinheiro venha de outros países", afirma Daniel Nepstad, do Woods Hole Research Center, nos Estados Unidos. Para isso, os cientistas contam com a aprovação em Copenhague do mecanismo Redd, que premiaria o desmatamento evitado como forma de combate ao aquecimento global.

"É a maneira mais barata de reduzir emissões", afirma Britaldo Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais. "O Brasil não pode perder essa oportunidade."

A estimativa inclui gastos com fiscalização, gerenciamento de áreas protegidas, pagamento por serviços ambientais e apoio ao desenvolvimento sustentável de comunidades tradicionais - de modo que não precisem mais derrubar a floresta para sobreviver.

O grande intervalo entre os números (de US$ 6,5 a US$ 18 bilhões) deve-se a diferenças no plano de ações e na intensidade do esforço necessário para alcançar a meta. Por exemplo, quando trata da compensação de produtores rurais que optarem por manter áreas de floresta além do exigido por lei (chamado "custo de oportunidade"). No cenário mais barato, só 10% desse custo seria compensado, versus 25% no cenário mais caro.

Emissões evitadas

Para atingir 100% de redução em 2020, o Brasil deixaria de derrubar, nos próximos dez anos, 153 mil quilômetros quadrados de floresta - uma área do tamanho do Acre. Isso evitaria a emissão de 6,2 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa (GEEs) para a atmosfera - equivalente a eliminar cerca de 3% das emissões globais desses gases, responsáveis pelo aquecimento global.

Os cálculos são baseados numa projeção de reduções gradativas abaixo da média de desmatamento do período 1996-2005, que foi de 19,5 mil km² (chamada linha de base histórica). Num cenário mais pessimista, em que o desmatamento tenderia a aumentar por causa da pavimentação de estradas e outros fatores de pressão, o volume de emissões evitadas poderia chegar a 12,4 bilhões de toneladas de GEEs, já que a área de desmatamento evitado teria de ser maior (chamada linha base projetada).

Moutinho ressalta que, apesar do desmatamento estar em ritmo de queda, o cenário pessimista não pode ser descartado, já que a redução dos últimos anos foi beneficiada por um esfriamento dos mercados de soja e carne. "Ainda não passamos pela prova de fogo, que será manter a queda do desmatamento frente a uma alta de preço das commodities", diz ele. "Vivemos uma situação favorável, mas ainda frágil", completa Soares. (O Estado de São Paulo)

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