sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Um fato inédito e simbólico

Na História da democracia brasileira, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), acusado de comandar a “organização criminosa” do mensalão do DEM no Distrito Federal e de tentar subornar testemunhas, é o primeiro governador a ser preso no exercício do cargo.

- A prisão do governador do Distrito Federal é um fato inédito e um momento simbólico para o Brasil em relação à impunidade da elite política. Mesmo que ele não fique muito tempo preso, sabemos que a corrupção tradicionalmente diminui quando existe punição. A prisão de Arruda é um avanço para o país — diz Marcelo Simas, cientista político da Fundação Getulio Vargas, lembrando que a Justiça ainda não foi totalmente feita: — Ele deveria ser processado e julgado, e o dinheiro deveria ser devolvido aos cofres públicos. Mas, mesmo que isso não aconteça, a prisão já mostra que a Justiça existe. Faz com que os brasileiros possam ver que nem tudo acaba em pizza.

Segundo Francisco Carlos Teixeira, professor de história contemporânea da UFRJ, a prisão decretada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) fará com que a sociedade perceba que “os cargos políticos não poderão mais ser usados como escudo para atos corruptos”.

- A prisão significa que houve um basta, além de ser um sinal de maturidade das nossas instituições. Não houve uso da força, e os aliados do governador do DF não puderam protegê-lo. A prisão mostra que hoje o político brasileiro está ao alcance da Justiça. Esses dois ganhos não acabam nem mesmo se a prisão for revogada.

Maria Celina D’Araujo, professora de ciência política da PUC-Rio, concorda com Francisco Carlos.

- A prisão causa um impacto positivo mesmo que ele não fique detido por muito tempo. As pessoas vão lembrar que um político acusado de corrupção foi para a cadeia, e isso mostra que a ideia de que eles podem tudo não existe. A prisão entra para a História do Brasil — diz Maria Celina.

De acordo com Francisco Carlos, a sociedade brasileira já não aguentava mais tantos casos de corrupção impunes.

- O grau de saturação é enorme. As pessoas têm a sensação de que tudo pode ser feito por quem tem um cargo político. Essa prisão é significativa não só para o DF, mas para todo o país.

Historiadora e cientista política, Lúcia Hipólito acredita que a prisão de Arruda seja um marco na distinção dos processos políticos e jurídicos.

- O impeachment sempre correu o risco de não dar em nada, porque ele tem aliados na câmara. Eles podiam cumprir todos os ritos e evitar que ele deixasse o governo. Com a prisão, a sociedade vê que não é preciso mais esperar os processos políticos para que haja punição — diz Lúcia, lembrando que, durante a ditadura, em 1964, Miguel Arraes, na época governador de Pernambuco, e Seixas Dória, que governava Sergipe, foram depostos e presos: — Mas foi muito diferente. Eles não foram presos por corrupção. (O Globo)

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