terça-feira, 24 de novembro de 2009

Previsão de colapso climático na Amazônia

Com elevação de apenas 2 graus Celsius, a perda de vegetação chegaria a 70%

A concentração de gases do efeito estufa na atmosfera é a maior já registrada desde a Revolução Industrial, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

E os efeitos já se fazem sentir, como revela o estudo “Pontos de colapso no sistema climático”, divulgado ontem, em Berlim, pela ONG WWF e a seguradora Allianz. Com uma elevação de 2 graus Celsius, alerta o documento, consequências dramáticas já se fariam sentir, como o aumento da incidência de secas e a destruição de grande parte da Floresta Amazônica.

— Mesmo que o desmatamento seja reduzido a zero, as nossas previsões são de que, até 2100, cerca de 70% da Floresta Amazônica teriam sido destruídos — disse Nicolai Tewes, responsável pelo estudo.

Com um aumento de 2 graus Celsius, já considerado inevitável, os cientistas calculam a destruição de 1,6 milhão de quilômetros quadrados de floresta. Para que a elevação da temperatura não ultrapasse este patamar, os países industrializados precisariam se comprometer a uma redução das emissões de CO2 em 40% até o ano de 2020. Até agora, no entanto, nenhum país rico se comprometeu oficialmente com tal meta.

Ontem, os EUA, que até então se mostravam reticentes em assumir compromissos, afirmaram que terão metas de redução, mas, provavelmente, na casa dos 20%, conforme lei que tramita ainda no Senado.

Com o derretimento do gelo dos polos, alerta o estudo, haverá uma elevação do nível do mar, com graves efeitos para as grandes metrópoles costeiras. Até o ano de 2050, o nível do mar subirá em meio metro.

Outro ponto crítico seria o aumento da vaporização das águas do Rio Amazonas em consequência do aquecimento, o que agravaria o processo. Com a morte da vegetação, as emissões aumentariam e a floresta perderia parte do seu efeito de “redução de carbono”. Os custos da destruição da vegetação da Amazônia foram calculados em C 3 bilhões.

Enquanto as mudanças na Amazônia ocorreriam com a elevação da temperatura de 2 a 3 graus Celsius, outras regiões da Terra, como a do Círculo Ártico, sofreriam o impacto maior com o aumento de 3 a 5 graus.

O estudo revela que secas na Amazônia, como a de 2005, ficarão mais frequentes. Se, no passado, a ocorrência era em período de vinte em vinte anos, no futuro esse intervalo poderá baixar para dois anos entre 2025 e 2050.

— A seca de 2005 gerou uma série de impactos, incluindo o aumento de incêndios florestais, interferência na navegação, reduções na produtividade agrícola, além dos impactos sobre a geração hidrelétrica (que fornece 85% da energia elétrica do Brasil).

Um outro levantamento divulgado ontem pela OMM revelou que as concentrações de gases-estufa alcançaram, em 2008, os maiores níveis desde 1750.

A concentração de CO2 (responsável por 63,5% do efeito estufa) passou de 280 partes por milhão (ppm) para 385 ppm. O metano, culpado por 18,2% do bloqueio de radiação, passou de 700 partes por bilhão (ppb) para 1.797 ppb, uma alta de 157%. O óxido nitroso (N2O) contribui com 6,2% do efeito estufa global — saltou 19% da era pré-industrial para cá. Eram 270 ppb. Agora são 321,8 ppb.(Graça Magalhães-Ruether/Correspondente - O Globo)
O Globo

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